Dia da Consciência Humana

08/12/2012

 

A 20 de novembro último, data que no Brasil se celebra O Dia Nacional da Consciência Negra e é dedicado à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. A data foi escolhida por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. O Dia da Consciência Negra procura ser uma data para se lembrar da resistência do negro à escravidão de forma geral, desde o primeiro transporte de africanos para o solo brasileiro (1594).

 

Este ano quando questionaram o ator negro Morgan Freeman sobre essa data ele sabiamente respondeu: — "O dia em que pararmos de nos preocupar com Consciência Negra, Amarela ou Branca e nos preocuparmos com Consciência Humana, o racismo desaparecerá”.

 

Por essa frase ele foi muito criticado por representantes de algumas entidades como o Movimento Negro e outras organizações não governamentais que vivem de palestras, eventos educativos e dinheiro público. Propagam que buscam evitar o desenvolvimento do auto preconceito, ou seja, da inferiorização perante a sociedade. Mas, na realidade são outros temas debatidos pela comunidade negra e que ganham evidência: inserção do negro no mercado de trabalho, criação cotas universitárias, etc... O que, em nossa opinião, ao invés de reverter possíveis discriminações, só fazem acirrar as diferenças, servindo como elemento divisor e não aglutinador.

 

Filosofia é um modo de pensar, e ao final se manifesta em um modo de existir. É uma forma de se colocar diante da realidade, diante dos problemas. A Filosofia questiona, indaga e não se acomoda diante das verdades absolutas. A Ética sendo uma parte da Filosofia se ocupa com a reflexão sobre os princípios que regem a vida moral da sociedade, por essa razão que estou de pleno acordo com uma das definições para uma das manifestações de Consciência: “Liberdade de consciência: direito de gozar de liberdade completa em matéria religiosa, moral, política etc...”.

 

Penso que o mundo atual e em especial o país em que vivemos, estimula o desenvolvimento de visões separatistas ¾ os Direitos Individuais isolados: consciência judaica; consciência gay; consciência cristã; consciência feminina; consciência negra; consciência indígena, e que tais. Interessa ao poder que não exista unidade. Interessa que a causa comum fracasse imperceptivelmente. Morgan Freeman o percebeu, porque é um homem sensível, que percebe a importância de se ter uma visão de conjunto da população pobre, humilhada, excluída das benesses da sociedade moderna, população essa que está cada vez mais sem voz, porque não tem nenhuma bandeira, nenhuma “Consciência Humana”.

 

Na terra somos mais de 6 bilhões de pessoas, vivendo abaixo da linha da pobreza são em torno de 3,5 bilhões, de todas as cores, credos e gêneros. Só uma consciência unificada pode fazer com que sejamos irmãos numa causa comum. Mas isto não interessa aos nossos dirigentes que querem dividir para governar, ou para reinar, como já ensinava Maquiavel no século XV.

 

No tocante específico a consciência negra, a respeito decantada INDIGNIDADE HISTÓRICA DE 300 ANOS EM NOSSO SOLO, creio ser pertinente dizer que a escravidão negra não teve seu início nas Américas, mas sim já grassava em África, onde tribos de diferentes etnias tornavam escravos seus inimigos e os vendiam para trabalho braçal nas novas colônias ainda parcamente povoadas.

 

O próprio Zumbi era escravocrata, os escravos que se recusassem a fugir das fazendas e ir para os quilombos eram capturados e convertidos em cativos nos quilombos. A luta de Palmares não era contra a iniquidade desumanizadora da escravidão. Era apenas recusa da escravidão própria, mas não da escravidão enquanto instituição.

 

As etnias de onde procederam os escravos negros para a América, ainda hoje se digladiam e martirizam, em uma África retalhada em inúmeras pseudonações, artificialmente criadas pela cobiça e descaso europeus, que não se importaram de unir, em um mesmo país, etnias inimigas irreconciliáveis, todas negras, mas sem uma “Consciência Própria”.

 

Citei o pensamento de Morgan Freeman porque, como ele, acredito que devamos procurar desenvolver uma Consciência Humana, de Seres Humanos. Existisse ela não teríamos que lamentar tantos crimes, genocídios cometidos pela Besta Humana e para que ela sobrevenha não vejo ser possível continuar a alimentar ódios e rancores. Observando alguns exemplos já imaginou como viveríamos se todos os judeus, ciganos, armênios, mulçumanos, enfim todos os povos martirizados da história cultivassem em seus corações a revolta pelos crimes passados.

 

No dia 20/11, comemorou-se em todo o Brasil o Dia da Consciência Negra, mas gostaria sim de um dia comemorar o Dia da Consciência, sim: mas não apenas negra, nem branca, nem amarela, nem vermelha, muito menos azul! Apenas, DIA DA CONSCIÊNCIA HUMANA. Criar uma Consciência Humana, não é esquecer os erros comedidos, mas sim aprender com eles, crescer como pessoa com eles para que jamais, em nome do que quer que seja voltem a acontecer.

 

Mas tudo isto é cultura, é linguagem, é a forma como o homem percebe sociopoliticamente o quadro conceitual. Nietzsche já dizia que cultura é uma teia que só apanha, o que se deixa apanhar, e eu afirmo que cada um colhe em função do seu próprio nível de percepção.

 

O tema é tão amplo que é muito fácil se perder nele, como por exemplo, abordar o princípio de Tratamento diferente para pessoas desiguais, seria esse princípio dirigido para a cor da pele, ou pelas diferenças socioculturais que uma sociedade injusta propicia?

 

Deixei também de falar acerca das políticas afirmativas, como as cotas para negros, que simplesmente relegou ao abandono uma multidão de brancos pobres, tão discriminados socialmente quanto os negros miseráveis. Como se sentirá o jovem de origem caucasiana, que com nota superior, for preterido por outro jovem apenas por este ser negro? Não estaríamos com isso acirrando o racismo, ao invés de operar uma pseudo compensação aos afrodescendentes?