Legado do 1º Turno

04/10/2010.

 

 

Havia tempos que um processo eleitoral não me emocionava, como a reta final desse primeiro turno o fez.

 

Comecei desanimado sob a perspectiva de enfrentar a chamada "Escolha de Sofia", entre a Bull Dog Sorrateira da Dilma e o Vampiro Anêmico Serra, confesso que muitas vezes cheguei cogitar anular meu voto, só não sucumbi a essa tentação, pois para mim parece mais um ato de covardia do que de protesto.

 

Na reta final, no entanto, a campanha e, principalmente, a repercussão obtida por Marina Silva, a pobre, sofrida, porém não acomodada representante do Acre fez renascer, ainda que de forma insipiente, a confiança em dias melhores. É claro que o perigo ainda não foi de todo afastado, com a quantidade de votos que a candidata do poder obteve, mostra o quão difícil será enfrentar a máquina pública. Mas o voto qualificado, pensado da Brava Seringueira, levantou um sinal de alerta às elites acostumadas ao poder, de que uma parcela significativa da população, não mais está se deixando levar por promessas vãs, nem simplesmente vendendo o seu voto.

 

Marina da Silva prestou à nação um serviço de muito maior profundidade do que simplesmente defender a propalada "política sustentada", calcada em seus dogmas verdes. Ela permitiu que uma parcela significativa da população, que já descrente, que tendia a se alienar de um processo político que consideravam por demais viciado, retornassem a crer ser ainda possível quebrar o círculo vicioso da busca do poder pelo poder. E é ainda mais significativo que essa conscientização ocorreu entre uma grande maioria de jovens.

 

O fenômeno Marina, com seu voto altamente qualificado sem dúvidas, assustou aos habituées do poder, principalmente a caterva palaciana, que já tinha essa eleição como favas contadas e se preparam para continuar o assalto à coisa pública por mais, pelo menos dezesseis anos. Mostrou a uma omissa e também viciada no poder "oposição", que é possível fazer política, fazer oposição com proposituras, não com ataques e promessas inverossímeis, com um comportamento que dignificaram a liturgia da posição de alguém que pretende o cargo de maior mandatário do país.

 

  1. O perigo ainda não esta de todo afastado, mas o Brasil deve à Marina a possibilidade de um segundo turno que possibilite a um número maior de eleitores perceber que "o rei está completa e definitivamente nu" e que obrigue ao candidato oposicionista, maior respeito, dignidade e clareza em suas posturas de oposição e que, abandonando seu comportamento elitista, ouça o clamor que vem de um povo sedento por um cenário político mais ético e transparente.

 

Desse primeiro turno a Nação ficou em débito com a candidata Marina Silva.