O Homem

30/01/2013

 

O homem vem ao mundo saindo do ventre de uma mulher. Está ele quieto e acomodado naquele ambiente cálido, calmo e acolhedor quando, sem ao menos lhe consultarem é de lá arrancado, dão-lhe um tapa na bunda e, por fim, cortam o último vínculo que o ligava ‘aquele abrigo seguro que tão bem o acolheu por nove meses.

 

A partir daí a vida do homem passa a ser uma luta insana para retornar ao aconchego do interior feminino. Na infância, já explicou Freud, agarra-se às barras da saia da mãe num desejo incontrolável e atávico de retornar ao seu ventre, na impossibilidade, apega-se a ela fazendo-a o centro de seu pequeno mundo.

 

Na juventude, com as explosões hormonais, vive tresloucadamente buscando infrutiferamente se enfiar em todos os seres do sexo feminino que cruzam o seu caminho. Desvanecido inventa as mais diversas formas artificiais para dar-lhe a sensação de nelas estar.

 

Na maturidade o grande desafio é entrar na cabeça da mulher. Debalde se esforça para compreender o pensamento e o comportamento feminino. O porquê de um não, dito em determinado momento e tom, tenha significado de sim, e como decodificar essa antonímia.

 

De por que quando a mulher pergunta se está mais gorda a única resposta possível, caso queira manter a relação sadia, é a negativa, mesmo que para, logo em seguida, ouvir uma longa cantilena de como ele não repara nada nela, pois ela está três quilos mais pesada. O mesmo ocorrendo quando ela corta um mísero dedo de comprimento no cabelo e ele não percebe instantaneamente.

 

De como conseguir diferenciar o amaranth pink, o brink pink, o carmine pink do carnation pink e outras tantas variações do tal pink e resignadamente aceitar o epíteto de homem rupestre, insensível e daltônico, por não consegui-lo.

 

Como identificar a aproximação da tal TPM e como sobreviver a ela todos os meses. Como reagir àquele acesso de choro repentino e aparentemente sem nenhum motivo, às crises existenciais e às infindáveis discussões da relação. Enfim como compreender a labiríntica formatação do pensamento feminino e as reações dele decorrentes.

 

Assim passa o homem toda uma vida frustrado buscando retornar ao útero, seu ninho primevo. Essa frustação só não é totalmente devastadora graças à natureza, que em sua eterna sapiência, deu ao homem um pequeno pedaço, um órgão tão pequeno que não chega a representar 9% de sua altura, mas que lhe permite, ainda que temporária e superficialmente, retornar ao interior da mulher. Se isso não atende totalmente ao anseio do retorno ao ventre materno, permite que, com esse pequeno apêndice, parte da frustração seja momentaneamente superada e o que é mais belo: além de nos assegurar parcialmente a entrada ao interior feminino, garante a preservação da espécie humana e aí tudo recomeça.