A Origem da Palavra “NEGO” na Bandeira da Paraíba

05/06/2010.

 

A bandeira da Paraíba foi adotada pela Aliança Liberal em 25 de setembro de 1930, por meio da Lei nº 704, no lugar de uma antiga bandeira do estado, que vigorou durante quinze anos (de 1907 a 1922). Ela foi idealizada nas cores vermelha e preta, sendo que o vermelho representa a cor da Aliança Liberal e o preto, o luto que se apossou da Paraíba com a morte de João Pessoa, presidente do estado em 1929. e candidato a vice-presidente do Brasil em 1930, ao lado de Getúlio Vargas como candidato à Presidência. Para muitos, o vermelho significa sangue derivado da violência da morte de João Pessoa e o preto o luto por isso. Posteriormente, em 26 de julho de 1965, a bandeira rubro-negra foi oficializada pelo governador do estado, Pedro Moreno Gondim, através do Decreto nº 3.919, como "Bandeira do Négo" (à época ainda com acento agudo na letra "e"). A palavra Nego constitui um verbo negativo por natureza. O preto ocupa um terço da bandeira; o vermelho, dois terços. A palavra Nego está posta sobre a cor vermelha.

 

A palavra NEGO que consta da bandeira da Paraíba, remonta a um fato ocorrido em 1929. Á época da República Velha existia uma aliança entre os estados de São Paulo e de Minas Gerais, chamada “aliança café com leite”, pela qual os dois estados se revezavam na presidência da república.

 

Esse acordo era apoiado por Epitácio Pessoa, presidente da república entre 1919 e 1922, em substituição a Rodrigues Alves e que desde 1924 era senador da república pelo estado da Paraíba e por seu sobrinho João Pessoa à época presidente do estado.

 

João Pessoa, como seu tio, não aceitou a indicação do então presidente da república Washington Luiz de Júlio Prestes, também paulista, à sua sucessão, rompendo com o acordo vigente e preterindo o candidato natural, o então presidente do estado de Minas Gerais Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, principal articulador e organizador da Aliança Liberal e um dos líderes da Revolução de 30.  

 

A 29 de julho de 1928, João Pessoa enviou uma mensagem ao Palácio do Catete, sede do governo, protestando contra a decisão. O então presidente do estado da Paraíba não usou exatamente o termo “NEGO”, mas a palavra ficou como um símbolo de resistência.

 

    O telegrama do "Nego"

                                                                                                        "Paraíba, 29-julho-1928

 

Deputado Tavares Cavalcanti:

 

Reunido o diretório do partido, sob minha presidência política, resolveu unanimemente não apoiar a candidatura do eminente Sr. Júlio Prestes à sucessão presidencial da República. Peço comunicar essa solução ao líder da Maioria, em resposta à sua consulta sobre a atitude da Paraíba.

 

Queira transmitir aos demais membros da bancada essa deliberação do Partido, que conto, todos apoiarão, com a solidariedade sempre assegurada.

 

Saudações:

 

João Pessoa, Presidente do Estado da Paraíba."

João Pessoa foi assassinado a 26 de julho de 1929 em Recife, mais precisamente na Confeitaria Glória na rua de Palma, por João Dutra Dantas, seu adversário político, jornalista cuja residência fora invadida pela polícia, supostamente a mando de João Pessoa e que culminou, em virtude de apreensões efetuadas nessa invasão, com a publicação nos jornais da capital do estado de cartas íntimas trocadas entre Dantas e sua suposta amante Anayde Beiriz.

 

Jovem e bela, Anayde foi a vencedora de um concurso de beleza promovido pelo Correio da Manhã em 1925. Para a mentalidade conservadora da sociedade brasileira à época, particularmente na Paraíba, Anayde não era uma mulher bem vista por causa das idéias progressistas que alimentava: como poetisa; como cidadã, defendia a participação das mulheres na política, em uma época em que sequer podiam votar; ousava em sua aparência, vestindo roupas decotadas e apresentando um corte de cabelo "à la garçonne". Além disso, não se prendia a convenções no que dizia respeito a relacionamentos amorosos.

 

Preso em flagrante João Dantas ficou recolhido à Casa de Detenção do Recife, tendo sido encontrado morto, degolado em sua cela em 3 de outubro de 1930. Embora tenha sido declarado como suicídio a “causa mortis” à época, as circunstâncias ainda permanecem obscuras.

 

Criticada publicamente por razões morais e políticas, Anayde sentiu-se acuada após o assassinato de João Pessoa, que causou grande comoção popular. Desse modo, abandonou a sua residência na Paraíba e foi morar em um abrigo no Recife, onde passou a visitar João Dantas, detido naquela cidade. Dias depois da morte de João Dantas, Anayde veio a falecer, aos 25 anos de idade, supostamente por envenenamento provocado por ela, quando sob os cuidados de freiras. O seu corpo foi sepultado como indigente no Cemitério de Santo Amaro.

 

O assassinato de João Pessoa, embora passional, foi considerado o estopim da Revolução de 30, que em 24 de outubro impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes e a 3 de novembro de 1930 empossou Getúlio Vargas na chefia do “Governo Provisório” e pos fim à “República Velha”. Naquele período foram preseguidos e mortos muitos opositiores do grupo político de que João Pessoa fazia parte.